Revolução nas Roupas: O Futuro Sustentável da Indústria Têxtil

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Você tem ideia de como a indústria têxtil é essencial no cenário global? De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o Brasil se destaca no mundo por sua expertise, criatividade e tecnologia no setor. Além disso, nosso país ostenta números impressionantes: é a quinta maior indústria têxtil global, o segundo maior produtor de denim e o terceiro na fabricação de malhas. 

E tem mais! Somos autossuficientes na produção de algodão e geramos cerca de 9,04 bilhões de peças de vestuário, consolidando nossa posição como referência mundial em beachwear, jeanswear, homewear e muito mais. Além disso, outros segmentos, como moda feminina, masculina, infantil, fitness e moda íntima, estão conquistando seu espaço no mercado internacional.

Além de sua importância econômica, a indústria têxtil é uma potência no que diz respeito ao emprego. No Brasil, ela gera 1,34 milhão de postos de trabalho, correspondendo a 16,7% dos empregos no país e contribuindo com 2% do PIB nacional em 2022, com um faturamento de R$161 bilhões em 2020. Na Índia, o segundo maior exportador de roupas do mundo, são 45 milhões de trabalhadores diretos e 60 milhões indiretos. Já na China, o maior fabricante e exportador, com 46% do mercado mundial, são 15 milhões de trabalhadores.

Herculano Ferreira, diretor criativo da ArtZone – Arte & Tecnologia e especialista no assunto, destaca que a diferença proporcional entre esses exemplos (Brasil, Índia e China) se deve, em grande parte, ao volume significativo de tecnologia incorporada nas operações industriais chinesas. Este é um setor que não para de evoluir e impactar o mundo de maneira incrível.

 

Desafios ambientais na indústria têxtil: Poluição e consumo responsável

Apesar dos impactos econômicos significativos, a indústria têxtil também é amplamente reconhecida por seu impacto ambiental, uma questão que exige atenção e discussão em todos os níveis. Segundo a organização Internacional Global Fashion, nos últimos anos, foram descartadas mais de 90 milhões de toneladas de resíduos têxteis, e a projeção para os próximos oito anos é que esse número alcance 140 milhões de toneladas.

Conforme Ferreira explica, a indústria têxtil se tornou o segundo ou terceiro maior poluidor do meio ambiente, mas isso não foi sempre assim. Essa posição foi solidificada nas últimas três décadas devido à combinação de vários fatores e agentes poluentes. Herculano descreve esse cenário complexo como a “cadeia de agentes poluidores da indústria têxtil”.

Ele destaca um desses fatores:

“O desenvolvimento de polímeros e fibras sintéticas, especialmente o poliéster, desempenhou um grande papel na deterioração ambiental causada não apenas por produtos têxteis, mas também por uma variedade de plásticos industriais. O mundo está inundado de resíduos de polímeros sintéticos, como polietileno, poliestireno e poliéster. Embora muitos desses materiais sejam recicláveis, a maioria esmagadora dos resíduos poliméricos é simplesmente descartada no solo e nos corpos d’água.”

A solução para a poluição ambiental decorrente da indústria têxtil e atividades relacionadas é extremamente complexa. Resumidamente, exigiria uma drástica redução do consumo, além do estímulo ao uso prolongado das roupas que adquirimos. Idealmente, uma peça de vestuário deveria ser usada entre 200 e 300 vezes, o que equivaleria a 20 a 30 anos de vida útil para uma peça de algodão, levando em consideração a quantidade excessiva de roupas que acumulamos ao longo da vida. No entanto, mais de 40% do que é vendido no mundo é usado apenas uma vez. Além disso, mais de 50% do que é fabricado não é vendido e acaba em aterros sanitários ou é queimado.

O desafio da sustentabilidade na indústria têxtil é um chamado à ação global que requer esforços coordenados de toda a sociedade.

 

Sustentabilidade na indústria têxtil: A busca por um futuro melhor

Diante dos desafios ambientais e do impacto negativo da indústria têxtil, é fundamental que busquemos alternativas e soluções para construir um setor mais sustentável. Atualmente, a tecnologia tem desempenhado um papel crucial nessa transformação. Técnicas avançadas de impressão digital, por exemplo, reduzem significativamente o consumo de água e a utilização de materiais tóxicos.

Além disso, o desenvolvimento de tecidos modernos e a reutilização de materiais estão se tornando cada vez mais comuns na indústria. Contudo, a conscientização sobre o consumo desempenha um papel vital nesse processo de mudança. É essencial questionarmos nossos hábitos de compra, refletindo sobre a durabilidade das peças que adquirimos e se realmente precisamos de tantas roupas novas.

O conceito de “slow fashion” tem ganhado espaço como uma abordagem mais consciente e sustentável. Enquanto o “fast fashion” se baseia na produção em massa de roupas baratas, o “slow fashion” valoriza a qualidade e a durabilidade das peças. Isso significa comprar menos, escolher peças de alta qualidade que durem mais tempo e optar por consertos e trocas em vez de descartar roupas.

Em resumo, a busca pela sustentabilidade na indústria têxtil não envolve apenas reduzir a emissão de carbono, mas também repensar toda a cadeia de produção, desde a agricultura do algodão até o descarte responsável. A transição para um modelo mais sustentável é essencial para preservar o meio ambiente e todas as formas de vida que dependem dele.

Marcas na encruzilhada: O desafio da consciência sustentável

O surgimento de pequenas marcas comprometidas com a sustentabilidade e a promoção de uma moda consciente é inegável. No entanto, um ponto crucial para o futuro da indústria têxtil é a adoção natural da conscientização por parte das grandes marcas, incluindo as gigantes do fast fashion e fabricantes de todos os tamanhos. Todos desejam crescimento e vendas cada vez maiores, mas a pergunta que deve ser feita é: a indústria está verdadeiramente se tornando mais consciente?

É aqui que a esperança recai sobre a Geração Z, nascida entre 1995 e 2012. Essa geração se autodeclara favorável a um mundo mais limpo, responsável, ecológico e sustentável. No entanto, a realidade mostra que, na prática, a Geração Z é a maior consumidora de fast fashion, um modelo e estilo de roupas altamente prejudiciais ao planeta.

Esse cenário paradoxal é extremamente preocupante. A esperança reside nas gerações mais jovens, que demonstram uma inclinação natural para a sustentabilidade, mas são influenciadas por modelos de consumo que favorecem a produção em massa, a rápida obsolescência e a descartabilidade.

A indústria têxtil enfrenta um desafio monumental: equilibrar o desejo de crescimento com a necessidade urgente de adotar práticas mais responsáveis e sustentáveis. As grandes marcas têm um papel crucial a desempenhar, não apenas na resposta à demanda do mercado, mas também na liderança de uma revolução em direção a um mundo mais limpo e um futuro verdadeiramente sustentável. É um desafio difícil, mas é um desafio que a indústria têxtil não pode mais adiar.

O desafio das fibras na indústria têxtil: Do poliéster ao algodão orgânico

À medida que a indústria têxtil se projeta para o futuro, surge um dilema crucial relacionado às fibras têxteis. Atualmente, o poliéster, que representa mais de 60% das fibras têxteis usadas, está em vias de se tornar ainda mais dominante, respondendo por cerca de 80% das fibras usadas em roupas até 2030 ou 2040. Essa tendência é alarmante, já que a maioria dos microplásticos que poluem nossos mares, águas e solos provém do poliéster. Resolver a degradação ambiental que está em curso requer uma redução drástica no uso de poliéster e viscose.

Infelizmente, a crescente expansão das empresas fast fashion, que contribuem significativamente para a poluição ambiental, é baseada principalmente no uso de poliéster e viscose em suas roupas. Isso coloca em xeque a sustentabilidade do setor.

Uma alternativa seria priorizar fibras naturais, com destaque para o algodão. Nos últimos anos, o algodão orgânico tem conquistado destaque por seu conforto térmico, resistência e sustentabilidade. Esse tipo de algodão é cultivado e manejado de forma a respeitar a natureza, sem o uso de sementes transgênicas ou produtos nocivos. O equilíbrio biológico do solo é preservado para controlar pragas e garantir maior rendimento.

No entanto, a produção em massa de algodão impõe desafios reais, especialmente em regiões onde o algodão é uma cultura predominante. Um exemplo disso é o consumo massivo de água no cultivo de algodão, com 97% das águas do Rio Indo sendo utilizadas para essa finalidade nos territórios da China, Índia e Paquistão. Cada camiseta comum consome aproximadamente 2.700 litros de água, uma quantidade suficiente para saciar a sede de uma pessoa durante dois anos e meio.

A produção de um quilo de fibra de algodão consome 2.700 litros de água, além de toneladas de fertilizantes sintéticos e pesticidas globalmente a cada ano, o que equivale a uma parcela substancial dos inseticidas e pesticidas mundiais. Essa exploração de recursos naturais e o impacto ambiental são insustentáveis.

Diante desse panorama, a solução mais realista é que os consumidores comprem de forma mais consciente, adquirindo apenas o que realmente necessitam e valorizando a durabilidade das peças. Além disso, a indústria têxtil precisa reavaliar suas metas, números e ambições, revendo suas práticas e modelos de produção em prol de um futuro mais sustentável.

A indústria têxtil está em uma encruzilhada que exige mudanças significativas e urgentes para atender às necessidades do presente sem comprometer o futuro.


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